Vitória, um cantinho do Xingu

 
Por Cristiana de Souza Zacarias
                                                                                     & Antonio Clébio de Araujo
 
Vitória do Xingu é uma das mais novas cidades do Pará. Localizada na parte central do estado, está situada na margem direita do rio Tucuruí, à aproximadamente dois quilômetros de seu exutório com o rio Xingu, numa coordenada geográfica de 02º52’48” de Latitude Sul e 52º00’36” de Longitude Oeste. Apresenta altitude de 0 metros em relação ao nível do mar. Possui  uma área territórial de 3.153 km²  dividido por seus 13.431 habitantes (IBGE, 2010).
 

História

 
Considerando que o processo de descobertas e povoamento da região amazônica se deu na sua predominância pelos rios, Vitória do Xingu não sendo uma exceção também deteve os primórdios de sua ocupação e povoamento por decorrência das águas. Por volta do século XVIII, mais aproximadamente na década de 1750, o padre Roque Hunderfund, adentrou o rio Xingu até chegarem ao Igarapé Tucuruí com um volume menor de águas facilitando sua chaga ao território, que posteriormente foi denominado de Vitória. Ali, em pleno manto selvagem da floresta amazônica, fez contatos com índios, mais precisamente, Xipaia e Curuaia, que lhes subsidiaram na abertura de veredas em direção à volta grande do Xingu, até chegarem à localidade propulsora da atual cidade de Altamira – PA, na qual fundaram a Missão Tavaquara, sendo abandonada após a expulsão dos Jesuítas.  
 
Mais tarde, já no século XIX, aproximadamente na década de 1860, dois frades italianos pertencentes aos capuchinhos, Ludovico e Mazzarino, ancoraram em Vitória, que já era um pequeno lugarejo residido por seringueiros. Os dois frades, assim como o padre Roque, usufruíram da ajuda dos indígenas para reabrirem a picada feita pelo padre já mencionado. Na década de 1870, este povoado já contava com a instalação de pequenos comércios que giravam em torno da exploração da borracha, logo impulsionado pelo processo de aviamento, o qual levavam dezenas de nordestinos a “mergulharem” numa desconhecida selva para a extração do látex. O atraente comércio manifestava a ambição pela melhoria de vida e trazia gente em diferentes escalas para a região, sendo, portanto, uma minoria que explorava, enquanto outros, a grande massa trabalhadora, era sub-humanamente explorados.
 
Desse modo, Coronel Gaioso, um piauiense movido pela ambição e a fome de lucros e vantagens, decidiu construir a estrada do trecho Vitória/Altamira almejando puramente e exclusivamente, grandes benefícios financeiros gerados pelo pedágio. Assim, investiu muito dinheiro nesta empreitada e em escravos, todavia, seu plano foi estilhaçado em consequência da abolição da escravatura.
 
Um pouco mais tarde, já na ultima década do século XIX, ancorou no porto de Vitória o fazendeiro baiano Agrário Cavalcante. Por sua vez, despontado pelo anseio do lucro, concluiu a estrada já citada acima. Nesta mesma época, expedições estrangeiras já rondavam e se deliciavam com as deslumbrantes riquezas do Xingu. Vale lembrar que uma expedição era comandada pelo naturalista alemão Karl Von den Stein e outra pelo cientista francês Henri Coudreau.
 
Considerando os relatos históricos apresentados, podemos observar que a instauração habitacional de Vitória se constituiu por uma miscigenação, lembrando que prevaleceram nesta formação nordestinos, índios, negros e caboclos, cenário que não se diverge muito da realidade e gênese do povo brasileiro como um todo.
 
Mesmo sendo descoberto e habitado por diferentes povos que vieram transformando e usufruindo de suas terras muito antes que outros municípios, este território prevaleceu quase dois séculos de dependências e jurisdição de outras municipalidades, todavia, sendo elevada a categoria de município somente em 1991 limitando-se ao Norte com Porto de Moz e Senador José Porfírio, ao Sul e a Oeste com Altamira e ao Leste também com Senador José Porfírio.
 

Economia

 
Como já se pôde notar, este município configura em sua história pontos de articulações e estratégias para muitos que visam desfrutar de suas riquezas e atrair capitais, consequentemente explorando a natureza em diferentes aspectos, fator este que marca uma instabilidade da economia local que passou por diferentes ciclos.
 
Inicialmente, movimentou-se em torno da exploração do látex retirado dos seringais nativos, economia que além de despertar a ocupação deste território patenteou o interesse para outras atividades. O ciclo da borracha perdurou por décadas e sua escassez foi dando lugar ao surgimento de outras fontes econômicas, assim propiciando em seu território outro ciclo, o da coleta de castanha-do-pará. Não sendo diferente da borracha, a extração de castanha-do-pará foi ficando difícil e muito distante, cedendo espaço para o meio econômico agrícola, na qual a produção de farinha ganhou destaque e movimentou o mercado local por muitos anos. Toda sua produção girava através de mecanismos artesanais e a força do trabalho humano.
 
Segundo relatos de um morador deste município, toda a produção de farinha era escoada pelo rio Tucuruí e Igarapé Ambé até a cidade de Altamira, trabalho este marcado por grandes dificuldades, principalmente com a baixa das águas, sendo necessária a utilização de carroças movidas pela força operaria que faziam a travessia nas partes secas dos rios. Falando-se em rios, Vitória do Xingu também conta com rendimentos derivados de atividade pesqueira, meio econômico de centenas de família que vivem exclusivamente dos pescados do exuberante rio Xingu, além de formarem as comunidades ribeirinhas.
 
Atualmente, o funcionalismo público predomina na economia deste município sendo, portanto, subsidiada por outros diferentes meios econômicos como a própria pesca, a agropecuária e o porto da cidade que serve como ponto de entrada e saída de mercadorias e de passageiros para diversos locais dentro e fora do Estado, gerando direta e indiretamente renda para várias famílias por meio do trabalho de barqueiros, estivadores, canoeiros, táxis, e muitos outros.
 

Cultura, festividades e lazer

 
Na questão cultural, Vitória se sobressai com as festas da padroeira da cidade, Nossa Senhora Auxiliadora dos Cristãos, o arraial junino e o festival de verão VITISOL na famosa Praia do Meio.
 
A festividade religiosa acontece geralmente na última semana de junho e reúne fieis de diferentes localidades vizinhas que se inter-relacionam e fazem do espaço festivo um cenário de confraternização, fé e devoção a Santa Auxiliadora dos Cristãos.  Consequentemente, a festa, além de comover os devotos na procissão e missas, congrega diferentes atrações com música, danças, comidas típicas, bebidas, e muitas brincadeiras para a criançada durante três noites consecutivas.
 
No mês junho com as tradicionais festas juninas, Vitória do Xingu também entra no ritmo das quadrilhas e das tradições culturais da região e dá um espetáculo em meio à mistura de cores presente nos trajes dos brincantes e a diversidade cultural trazida de várias cidades vizinhas. Movidos pelo entusiasmo e desejo de conquista, dois grupos de danças locais, Revelação e Explosão Vitoriense, há anos fazem deste espaço um verdadeiro desfile de muita beleza, elegância, cultura, tradição e muita folia, onde, se divertindo travam uma disputa que encanta, emociona e envolve a plateia que se divide nos aplausos e na torcida, porém, se somam na alegria conformando um evento tranquilo e inolvidável.
 
Com essa mesma energia, o povo de Vitória aproveita a baixa das águas do encantador rio Xingu e desfrutam de belas praias naturalmente preparadas para o lazer, o descanso e o esporte em diferentes modalidades. Para abrilhantar ainda mais, aproveitando o sol de verão neste período, a prefeitura da cidade organiza todos os anos uma das maiores festa da região, o VIT SOL na Praia do Meio, localizada bem próximo da sede municipal. Esta festa se estende de setembro a novembro e atraem pessoas de diferentes classes sociais, representantes políticos e autoridades de vários eixos, sociais, turístico, econômico, político, religioso, etc.
 
Para marcar o enceramento do período de verão, a festa torna-se durante os 15 últimos dias de outubro um ambiente conduzido pelos desfiles, concursos, atrações artísticas, culturais e disputas esportivas diversas, fechando-se com a entrega de premiação, as lembranças e o anseio dos participantes em voltarem no ano seguinte.
 
Diante do exposto, é válido relatar que, mesmo ainda tendo pouco tempo de emancipação política, exerce influencia direta na região por contar com o porto de acesso a maiores embarcações, além disto, já conta com serviços básicos, como correspondentes bancários, escola de ensino fundamental e médio, hospital, posto de fiscalização, dentre outros e, atualmente passa por um processo de revitalização de seus espaços, momento este, marcado pela injeção de recursos federais por consequência da construção da Usina Hidrelétrica Belo Monte e seu território receber influencia direta desta obra.
 

REFERÊNCIAS

 
Dados Básicos. IBGE, 2010. Disponível  https://www.ibge.gov.br/cidadesat/painel/painel.php?codmun=150835#. Acesso em 15 de março de 2012
 
Histórico. Disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Vit%C3%B3ria_do_Xingu. Acesso EM 15 DE MARÇO DE 2012.
 
Relato do morador e chefe do Cerimonial Joaquim Barbosa de Souza. Entrevista concedida à equipe GeoXingu numa visita realizada à cidade de Vitória do Xingu em 21 de junho de 2012.

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