SOUZEL OU SENADOR JOSÉ PORFÍRIO: As marcas de um processo histórico

 
Por Antonio Clebio de Araujo*

 

        O Município de Senador José Porfírio representa as profundas marcas do processo de ocupação jesuítica na região Xingu, ainda no século XVII, com uma trajetória histórica marcante até mesmo no nome. O município pertence à mesorregião Sudoeste Paraense e à microrregião de Altamira nas seguintes coordenadas geográficas: 02º34'45”S e 51º57'15"W (PORTALAMAZONIA). Sua sede (Souzel) está construída em pleno manto verde da selva Amazônica à margem direita do Rio Xingu, abaixo da volta grande e Terra do Meio situada num grande vale sedimentar, entre os igarapés Croatá e Maxiacá. É um dos únicos municípios brasileiro que possui dois territórios totalmente separados, sendo assim, como o município de Sítio d'Abadia (Goiás), uma ocorrência rara nos municípios brasileiros. No caso de Senador José Porfírio, essa separação se dá pelo município de Vitória do Xingu, o qual já chegou a fazer parte de Senador José Porfírio. (WIKIPÉDIA). Assim, o acesso a esta cidade se dá predominantemente pelo transporte fluvial, pois se trata de um município beira rio e com apenas um acesso terrestre, sendo este de precárias condições ao transporte rodoviário.

 

        Em meados do século XVII, com a chegada dos Jesuítas na região do Xingu, mais precisamente entre 1620 – 1630, expuseram sobre o rio Xingu e se concentraram formando um pequeno aglomerado populacional a margem esquerda deste rio numa localidade que foi denominada de Agrovila do Aracarí. Ali, sobre a coordenação do Padre Jesuíta Luiz Figueira, organizou-se a economia sobre a base do extrativismo da borracha látex cauxo, castanha, ucuúba, raiz de timbó, salsaparrilha, cravo, além da caça e pesca e a produção do óleo e azeite de ovos de tartaruga que utilizavam para acender os lampiões. Deste modo, aos pouco foi avançando e se desenvolvendo passando a categoria de Freguesia denominada Santo Inácio de Loiola. A Freguesia era um ponto estratégico do governo, onde detinha a ocupação e controle das terras por meio de um representante de sua confiança, neste caso, o Padre Luiz Figueira, o qual mantinha a organização econômica, política e religiosa de acordo com os interesses do governo que, com ataques ideológicos, controlavam o território combatendo as agressões indígenas, de outras religiões e nações.
           
        Mais tarde, com a expulsão dos religiosos jesuítas da região sob a administração de Marques de Pombal, criou-se um decreto determinando que os nomes das cidades devessem receber denominação portuguesa, assim recebeu o nome de Souzel. A cidade contava com um porto de acesso a pequenas embarcações aja visto que as pedras impossibilitavam a encosta de embarcações de maior porte e a escoação da produção em maior escala. Diante destes empecilhos, fez-se necessário a mudança da cidade para o outro lado do rio, espaço que, além de já contar com o leprosário, uma Igreja e a administração, disponibilizava de uma suntuosa e vasta praia onde se tornou acessível às grandes embarcações. Porém, sendo transferida em 1846 na gestão do governador Manoel Paranhos da Silva Veloso, que a denominou de município em 20 de março de 1846 pela Lei n° 125 de 14 de abril de 1814.
 
        Com o desdobramento do ciclo da borracha e da castanha, Souzel avança e atrai inúmeras pessoas para o seu território. Com crescimento populacional por volta da primeira metade do século XVIII faz-se necessário a criação de dois distritos, Vila Nova e Alto Xingu, fatores que marcaram um melhor controle do território, lembrando que Vitória, Altamira e Anapu pertenciam a área geográfica de intendência de Souzel. (Entrevista do Profº. Adelson Bayma, 2011)
           
        Diante de todo este processo, ganha a vila do Alto Xingu, passando a condição de município no inicio do século XX recebendo o nome de Altamira, fato que ocasionou uma marcante regressão do município de Souzel para vila de Souzel, tornando-se assim distrito de Porto de Moz. Nestas condições, Souzel viveu alguns anos sendo regido pela administração portomoisense. Mais tarde, já na segunda metade do século XX, sua população insatisfeita com a regressão do município reuniu uma comissão e juntamente ao governo do estado, sobre a administração do vice-governador Neuton Miranda, travaram uma luta em prol da emancipação deste território. No entanto, como acordo, o governo concedeu seus anseios impondo a este jurisdição o nome de Senador José Porfírio como forma de homenagear seu avô que foi um grande político desbravador da região do Xingu na República valha. Conseqüentemente, em 31 de dezembro de 1961, sob a categoria de um decreto estadual, Souzel voltou à condição de município com o nome de Senador José Porfírio. (LUIZA PENA, 2011).
 
        Incorporado a esta oscilante história, o território atual de Senador possui uma extensão de 8.273 Km² (IBGE, 2010) subdivididos entre terras agricultáveis, a exuberante beleza do rio Xingu que o corta, a singularidade dos brios das praias no verão, a expressividade ecológica da fauna presente no Tabuleiro do Embaubal que fica no meio da baía do Xingu a 20 km de Souzel (sede municipal), área de preservação ambiental e berçário dos quelônios, como: tartaruga, tracajá e pitiú, além de resguardar também outras espécies da fauna aquática amazônica. Somando-se a este cenário, a generosidade da população souzelense proporciona a este espaço a hospitalidade configurada pela simpatia e a humildade de uma comunidade predominantemente ribeirinha.
        
        Ponderando estas proporções, em essência a última, aventuramo-nos em lembrar que a base econômica do município ainda nos dias atuais, corresponde na sua predominância sob a agricultura e a pesca, mesmo tendo passado por um período de grande extração de madeira que sustentou sua economia até a interferência das leis ambientais que levaram a baixa desta força produtiva do território Souzelense. Associados a este suporte econômico do município, Senador José Porfírio conta também com a agriculta de subsistência, presente nos assentamentos, e um pequeno rebanho bovino que por sua vez adiciona-se ao potencial produtivo local.
        
        Na cultura, o povo porfiriense faz da tradição religiosa a mais importante manifestação do município, com a festa em homenagem ao Santo padroeiro São Francisco Xavier, comemorado no dia 3 de dezembro. A festividade cultiva de um lado, os seus costumes religiosos, com missas, novenas e cortejos da imagem e de outro, o caráter profano, com arraial e muita diversão. Destaca-se também como evento religioso, a Festa de São Benedito, comemorada posteriormente a Semana Santa e configura no município, registro de manifestações culturais permanentes, como grupos de danças típicas que fazem do evento religioso um espaço para confraternização de fé, de tradição e da cultura.
 
        O município oferece também há 19 anos, com a finalidade de homenagear aos pescadores do menor peixe da Amazônia, um espaço de pura alegria e miscigenação, ao abrilhantar a praia do Leme, um verdadeiro cartão postal da cidade, com o Festival do Caratinga, uma espécie de cará do rio Xingu predominante no município de Senador. A festa é organizada pela secretaria de cultura sendo realizada nas duas últimas semanas de janeiro todos os anos e reúne foliões de toda a região. O festival representa não só um ato de homenagem, mais também, a cultura, a tradição, a animação e a integração dos diferentes costumes, configurando neste espaço um só conjunto formado pela diversidade, a emoção a simpatia do povo do Xingu. Assim, durante todas as noites, o palco Caratinga torna-se alvo de inúmeras exposições culturais locais e regionais, tais como brincadeiras, esporte, disputas dos grupos e muita emoção entoada pelas bandas musicais e a voz de artistas regionais. No domingo, o enceramento da festa é caracterizado pelos pescadores, que em procissão em sua canoas avançam nas águas do rio Xingu em busca do Rei da festa, o caratinga. A pesca do caratinga, uma das modalidades do Festival, é realizada por pescadores locais como forma de expressão da identidade, da força, da determinação e sobrevivência do povo ribeirinho do Xingu.
 
        Souzel ou Senador José Porfírio? Partindo dos pressupostos históricos e da dualidade da nomenclatura do município, enfatizamos que o território do atual Senador sofreu uma variação de nomes que repercute até os dias atuais levando algumas pessoas a imaginarem dois municípios distintos, no entanto, é apenas um, mas que impregna até hoje as marcas de uma força primitiva e religiosa visivelmente, não só no nome, como também nas festividades e até mesmo na força da produção econômica deste território.
 
 

REFERÊNCIAS

 
Aniversário de Senador José Porfírio. Disponível em https://luizsalespena.blogspot.com/2011/01/aniversario-de-senador-jose-porfirio.html. Acesso  em 26 de Setembro  de 2011.
 
História de Senador. Disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Senador_Jos%C3%A9_Porf%C3%ADrio. Acesso em 26 de Setembro de 2011.
 
Relatos históricos. Adelson Bayma – Professor da Universidade Federal do Pará Campus de Altamira.
 
Senador José Porfírio, município do Pará. Disponível em https://www.portalamazonia.com.br/secao/amazoniadeaz/interna.php?id=675. Acesso em 10 de outubro de 2011.

 

* Bolsista do Projeto de Extensão GeoXingu

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CITAÇÃO EQUIVOCADA

Solicito que o autor deste site corrija a citação do 5º paragrafo : (LUIZA PENA, 2011). O Correto é (LUIZ PENA, 2011)

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contatos do cartório de senador jose porfirio

alguem pode me enviar neste email:

samuelgasparaudios@hotmail.com

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Contato - prefeitura de Souzel

Meu nome é Laila Costa, sou professora e trabalhei por Souzel este ano de 2013. Eu estava procurando um e-mail da prefeitura de Souzel para saber sobre meu contracheque e achei o blog Geoxingu e consequentemente achei este e-mail. Será que alguém aí teria o conhecimento deste contato via internet?
Obrigada, aguardo resposta.

Profª Laila.

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Re:Contato - prefeitura de Souzel

sera q ainda posso lhe ajudar professora ?

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Souzel

Possuo titulo de posse de um lugar denominado buritizal em souzel. segundo o documento o avó de meu pai o descobriu.
sidneifvale@hotmail.com

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